terça-feira, 11 de outubro de 2016
Esvaziar
De volta ao lugar que não é mais o mesmo, nem é outro. É o lugar concreto? Também não. Mas parece. Parece vazio perto do que a imaginação pensava dele. Nem a imaginação consegue mais alcançar. Talvez a memória. A impressão. Todos os lugares para onde se volta são assim: vazios. E parecem esvaziar quem volta. E esvaziam. É preciso um esforço para revê-lo desfigurado. Só existe aqui e agora. O que se fez da memória já apagou, transformou. Se foi. Assim, esvaziando, o passado enche-se de presente.
quarta-feira, 19 de dezembro de 2012
quinta-feira, 5 de novembro de 2009
Atualidades...
Tem gente que poderia ser de outro tempo, nesse tempo. Gente que fica alheia à internet, não tem automóvel, ou se tem não gosta. Tem gente que vive noutro lugar, com a mente em choque com o que vê. Inside ou outside? Nem in, nem out! Existe otherside? Existe ainda paisagem intacta perto da civilização, nesse planeta? Lugar com o ar puro? Lugar com a música de gente próxima e de bicho? Perto da gente tem isso a que custo? Tem como não correr e alcançar?
Sabe-se lá se é possível viver assim... tem gente tentando.
Sabe-se lá se é possível viver assim... tem gente tentando.
domingo, 2 de novembro de 2008
Um dia, outro dia.
Que se vai passando
passando fica
ficando vai
passa, afinal,
sem passar o que quer que se vá
indo o que se quer que permaneça
prevalecendo o que fica
passa a querer que fique o que está
ficando o que passa permanente
que permanentemente passa
sem fim
passando fica
ficando vai
passa, afinal,
sem passar o que quer que se vá
indo o que se quer que permaneça
prevalecendo o que fica
passa a querer que fique o que está
ficando o que passa permanente
que permanentemente passa
sem fim
quarta-feira, 10 de setembro de 2008
Apiedar-se?
Tiraram-lhe os pés!
A dor que parecia doer
doía
e ainda doíam os pés que já não tinha
doía-lhe a lembrança de doer os pés
bem a ponta acúlea da dor
e do membro extirpado
Doía-lhe um tanto e malfadado pensamento
capaz de fazer doer a sensação do corpo inteiro
impedindo debelar-se
sobre fatos
sobre imagens
Impotente e saturada foi chorar
o membro que levaram de si
- porque assim lhe parecia -
quando fez-se noite em seus sentidos
e na sua esperança
e na crença que a sustentava sobre o calcanhar extinto.
A dor que parecia doer
doía
e ainda doíam os pés que já não tinha
doía-lhe a lembrança de doer os pés
bem a ponta acúlea da dor
e do membro extirpado
Doía-lhe um tanto e malfadado pensamento
capaz de fazer doer a sensação do corpo inteiro
impedindo debelar-se
sobre fatos
sobre imagens
Impotente e saturada foi chorar
o membro que levaram de si
- porque assim lhe parecia -
quando fez-se noite em seus sentidos
e na sua esperança
e na crença que a sustentava sobre o calcanhar extinto.
sábado, 6 de setembro de 2008
Contraponto
Quanto tem de verdade no amor
e de amor na verdade?
Que não seja cruel ou omissa
ou ambígüo.
Quanto deve haver de verdade?
Que não esbarre no medo, que o medo não esbarre na alma
que a alma não se culpe nem desculpe por nada...
Nem dê motivos para se amar menos, ou amando mais
fique naturalmente confessa.
É possível haver verdade no amor
e amor na verdade
em que um esteja sempre no outro
com o conforto de não ter que pensar nisso?
e de amor na verdade?
Que não seja cruel ou omissa
ou ambígüo.
Quanto deve haver de verdade?
Que não esbarre no medo, que o medo não esbarre na alma
que a alma não se culpe nem desculpe por nada...
Nem dê motivos para se amar menos, ou amando mais
fique naturalmente confessa.
É possível haver verdade no amor
e amor na verdade
em que um esteja sempre no outro
com o conforto de não ter que pensar nisso?
quinta-feira, 1 de maio de 2008
Encomenda (Cecília Meireles)
Desejo uma fotografia
como esta - o senhor vê? - como esta:
em que para sempre me ria
com um vestido de eterna festa.
Como tenho a testa sombria,
derrame luz na minha testa.
Deixe esta ruga, que me empresta
um certo ar de sabedoria.
Não mêta fundos de floresta
nem arbitrária fantasia...
Não... Neste espaço que ainda resta,
ponha uma cadeira vazia.
como esta - o senhor vê? - como esta:
em que para sempre me ria
com um vestido de eterna festa.
Como tenho a testa sombria,
derrame luz na minha testa.
Deixe esta ruga, que me empresta
um certo ar de sabedoria.
Não mêta fundos de floresta
nem arbitrária fantasia...
Não... Neste espaço que ainda resta,
ponha uma cadeira vazia.
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